Os
Morcegos
Os
morcegos se escondem entre as cornijas da alfândega. Mas onde se escondem os homens, que, contudo voam a vida inteira no escuro,
chocando-se contra as paredes brancas do amor?
A casa de nosso pai era cheia de
morcegos pendentes, como luminárias, dos velhos caibros que sustentavam
o telhado ameaçado pelas chuvas. “Estes filhos chupam o nosso sangue”, suspirava meu pai.
Que homem jogará a primeira pedra
nesse mamífero que, como ele, se nutre do sangue dos outros bichos (meu irmão! meu irmão!) e, comunitário, exige o suor
do semelhante mesmo na escuridão?
No
halo de um seio jovem como a noite esconde-se o homem; na paina de seu
travesseiro, na luz do farol.
o homem guarda as moedas douradas de seu amor. Mas o morcego, dormindo como um
pêndulo, só guarda o dia
[ofendido.
Ao
morrer, nosso pai nos deixou (a mim e a meus oito irmãos) a sua casa onde à
noite chovia pelas telhas quebradas.
Ivo Lêdo: associação do novo ao
tradicional se encontram na obra do poeta alagoano, sensível às desigualdades
sociais (18/02/1924 – 23/12/1012). Revista Língua Portuguesa, ano 9. Nº 101,
março de 2014, págs 34 e 35. www.revistalingua.com.br.
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