“Tudo o que não invento é falso” – Manoel de Barros
Manoel por Manoel
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A primeira
infância
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A segunda
infância
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A terceira
infância – Fontes pág 127
Três personagens me ajudaram a compor
estas memórias. Quero dar ciência delas. Uma, a criança; dois, os passarinhos;
três, os andarilhos. A criança me deu a semente da palavra. Os passarinhos me
deram desprendimento das coisas da terra. E os andarilhos, a preciência da
natureza de Deus. Quero falar primeiro dos andarilhos, do uso em primeiro lugar
que eles faziam da ignorância. Sempre eles sabiam tudo sobre o nada. E ainda
multiplicam o nada por zero --- o que lhes dava uma linguagem de chão. Para
nunca saber onde chegavam. E para chegar sempre de surpresa. Eles não afundavam
estradas, mas inventavam caminhos. Essa a pré-ciência que sempre vi nos
andarilhos. Eles me ensinaram a amar a natureza. Bem que eu pude prever que os
que fogem da natureza um dia voltam para ela. Aprendi com os passarinhos a
liberdade. Eles dominam o mais leve sem precisar ter motor nas costas. E são
livres para pousar em qualquer tempo nos lírios ou nas pedras --- sem se
machucarem. E aprendi com eles ser disponível para sonhar. O outro parceiro de
sempre foi a criança que me escreve. Os pássaros, os andarilhos e a criança em
mim são meus colaboradores destas Memórias inventadas e doadores de suas
fontes.
Retirado do livro “Manoel de Barros”. Memórias
Inventadas. As Infâncias de Manoel de Barros
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